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texto: de Edmundo de Souza

meu corpo estremece enfrentando a força  do vento. O frio é intenso. Caminho para lugar nenhum.  Visito prédios vazios e casas sem moradores. É uma cidade de ninguém. Só eu existo,  só eu perambulo pelos lugares a esmo e volto sempre de onde comecei. Quando sinto as pernas cansadas sento no mesmo banco do jardim olhando tudo em volta, coisas que já vi inúmeras vezes. Perdi a noção do tempo. A noite escura recebe apenas a luz da lua e das estrelas cintilantes do céu. O mundo acabou, sou o único sobrevivente em busca de nada. Não existe horizonte, não existe depois, é só aqui e agora. Não tenho o que lembrar, talvez seja o medo de mim mesmo. Alimento da dor e da tristeza que trago comigo. Sou um viajante solitário morando numa estação vazia, os ônibus e aviões estão parados consumidos pela ferrugem do tempo. Ouço apenas a minha voz. É uma noite sem amanhã, o dia nunca chega, a noite é eterna. A cidade não tem nome, nem sei dizer onde fica. Existe em algum lugar onde não há ninguém. Uma cidade sem história, sem ontem nem amanhã, é só hoje vivendo uma noite sem fim. Engraçado! Meus passos são rápidos, basta a minha vontade para estar com rapidez em diversos lugares. Tenho a impressão estranha de que olhos ocultos me vêem, percebo vultos distantes se misturando com a escuridão. Mas, de repente, sobressalto ouvindo uma voz: “Papai, está chovendo!” Acordo assustado correndo para a janela querendo confirmar que aquilo era verdade. Despertei de um sonho: “Foi apenas um pesadelo querido!”dizia a minha mulher. A maior dádiva da vida eu recebia naquele instante, o abraço do meu filho Ítalo e o sorriso meigo da minha companheira. Ela acompanhou muitas vezes a minha viagem para a cidade desconhecida. E sempre contava os mesmos acontecimentos. Ela já compreendia.  A minha intimidade revela o mundo que construí: o belo e o ruim e me convida a permanecer no esforço de renovar as minhas atitudes. Só eu posso fazer isso. A auto- iluminação só eu posso insistir em realizar. Enquanto esse dia não chega vou convivendo com as noites e os dias da minha vida!