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texto de Edmundo de souza - UFMT
A manhã estava fria e o tempo era atraente para tomar um cafezinho. Fui ao mercado municipal e minutos depois aproximou-se uma menina pedindo que lhe pagasse um pedaço de torta. Seu jeito cativante chamou-me a atenção e perguntei seu nome: Talita! respondeu logo e assim que ganhou o que queria esboçou um leve sorriso e foi embora. Essa cena ficou comigo. Uma senhora mais próxima percebendo minha emoção disse logo: "Isso é tão comum por aqui que a gente nem liga mais". Neste país que vivemos uma criança pobre é um fato comum. Não mais surpreende ninguém. Mas era diferente para mim. Fiz o que era possível naquele instante,todavia, nunca mais pude esquecer a pequena Talita. E, depois, caminhando silencioso orei deixando cair minhas lágrimas copiosamente. Enfrentando uma montanha de dificuldades para prosseguir em meus estudos de pós-graduação senti-me impotente naquela hora para fazer algo mais. A pequena Talita é o próprio amor rodando em nossas cidades pedindo nossa ação solidária através de um sorriso meigo que nem sempre podemos notar; é o amor verdadeiro que dispensa qualquer retórica e que fala por si mesmo. O amor tão distante de templos religiosos, igrejas, que nunca abrem suas portas para recolherem crianças abandonadas. A expressão máxima do amor é a caridade! Mas sei que o lindo sorriso de Talita pode comover os poetas e, se isso é tão verdadeiro, que cantem os poetas seus versos e encantem de novo o mundo. Reacendam o coração dos homens. Somente o amor conseguirá romper a indiferença entre as criaturas humanas. Onde estão os poetas de ontem, hoje, amanhã? A grandeza da vida se revela no pequeno e lindo sorriso de Talita, tão perto de nós e tão maravilhoso. A criança de rua é da mesma rua que a sua, da minha rua, é a mesma criança frágil pedindo socorro, suplicando amparo e um pedaço de pão!